O presidente Jair Bolsonaro não está tendo um 2021 fácil. O avanço da pandemia no País, que já matou 525 mil brasileiros, a ainda lenta vacinação da população, e o aumento do custo de vida (inflação) com desemprego elevado já são motivos suficientes para a sua aprovação e a do seu governo caírem ladeira abaixo. A reprovação ao presidente atingiu seu maior nível, chegando a 63%, segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). No levantamento anterior, em fevereiro, ele era reprovado por 51%. A aprovação caiu de 44% em fevereiro para 34% agora. Para piorar, surgem denuncias de favorecimentos e suspeita de irregularidades nas compras de vacinas contra a Covid-19, que alimentaram a CPI da Pandemia no Senado e prometem ainda oferecer farto material para os próximos meses. .
Confira alguns fatos que podem agravar a insônia no Palácio do Planalto:
O TCU deu dez dias para que o Ministério da Saúde explique por que o preço da vacina indiana Covaxin saltou 50%, de US$ 10 para US$ 15 por dose entre a primeira negociação e o fechamento do contrato. O ministério também não respondeu ainda se foi feita pesquisa de preços antes que fosse firmado o acordo, intermediado pela Precisa Medicamentos, cujo dono é investigado em denúncias de fraudes. O chefe do setor de importações do ministério, Luis Ricardo Fernandes Miranda, disse ter sido pressionado a acelerar a aprovação do contrato.
O ministro Ricardo Lewandowski (STF) deu prazo de cinco dias para que a CPI explique por que foi adiado o depoimento do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Na comissão, o deputado Luís Miranda (DEM-DF), irmão de Luis Ricardo Miranda, disse ter levado a Bolsonaro as denúncias de irregularidades na compra da Covaxin e que o presidente comentara que era “um rolo” de Barros. O líder do governo afirma que, ao adiar seu depoimento, a CPI cerceia seu direito de defesa.
Há uma nova denúncia envolvendo a intermediação da Davati Medical Supply na suposta compra de doses da AstraZeneca. A negociação em nome do Ministério da Saúde estava sendo conduzida por uma entidade religiosa sem qualquer ligação com a pasta. A Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), que não é um órgão do governo, tem como presidente o reverendo Amilton Gomes de Paula, que aparece em diversos e-mails trocados entre o ministério e a Davati. Numa gravação de março, o cabo da PM Luiz Paulo Dominguetti, que se apresenta como representante da Davati, disse que Bolsonaro sabia das negociações para a compra de vacinas com intermediação. A mensagem estava em seu celular, apreendido pela CPI.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) apresentou um pedido para criação de uma CPI para investigar o suposto envolvimento do presidente Bolsonaro num esquema de “rachadinhas” quando foi deputado federal, entre 1991 e 2018. A denúncia veio da ex-cunhada de Bolsonaro, Andrea Siqueira Valle. Deputados do PSOL encaminharam à Procuradoria-Geral da República (PGR) pedido para que investigue a denúncia das rachadinhas, mas é improvável que isso aconteça. Pela lei, o presidente só pode ser investigado por atos inerentes ao cargo e cometidos durante o mandato.
E o STF formou maioria para arquivar o pedido de investigação do depósito por Fabrício Queiroz de cheques na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Seis ministros seguiram o parecer da PGR de que não há “lastro probatório mínimo” ligando os cheques ao presidente, não cabendo ao Supremo analisar o caso.