A nota de compra da vacina indiana Covaxin apresentada pelo ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência da República era falsa, afirmou ontem, durante sessão da CPI da Pandemia, a senadora Simone Tebet (MDB-MS). No dia 23 de junho, horas depois de o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, dizerem que haviam relatado ao presidente Bolsonaro denúncias de irregularidades na compra da Covaxin, Onyx fez um pronunciamento em tom agressivo no qual afirmou que a nota de compra apresentada pelos Miranda era falsa e mostrou uma outra nota em inglês que seria verdadeira.
Tebet sustenta que é o contrário. O documento mostrado pelo ministro tinha vários erros de ortografia e o número errado de vacinas. “Ficou muito claro que as notas foram fabricadas por alguém”, disse a senadora.
A denúncia de Tebet não foi a única polêmica ontem envolvendo a Covaxin. Ao depor na CPI, servidora do Ministério da Saúde Regina Célia Silva Oliveira, encarregada de fiscalizar o contrato de compra da vacina disse aos senadores não ter visto “nada atípico”, mesmo tendo sido nomeada dois dias depois de os irmãos Miranda terem supostamente denunciado a Bolsonaro as irregularidades e pressões para aprovação da compra. Ela admitiu, porém, que o contrato ficou um mês sem fiscalização. A servidora aprovou o contrato mesmo depois de a Precisa Medicamentos, intermediária da negociação, não ter entregado o primeiro lote acordado.
Em outro caso suspeito envolvendo vacinas, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), suspendeu o sigilo das mensagens extraídas do celular do PM Luiz Paulo Dominguetti, que intermediou a venda de vacinas da AstraZeneca por meio da empresa americana Davati Medical Supply e denunciou um pedido de propina. Numa delas, ele afirma receber informações diretamente do gabinete de Bolsonaro; em outra, do dia 13 de março, informa ao CEO da Davati que estava próximo de marcar uma reunião com o próprio presidente. Em conversas mais descontraídas, amigos do PM celebravam os “últimos dias de pobre”, enquanto Dominguetti falava em “reservar o Jaguar e uma casa em Brasília”.
E hoje depõe o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, acusado pelo PM de ter cobrado US$ 1 por dose da AstraZenenca intermediada pela Davati. E quem era pedra virou vidraça. O reverendo Amilton Gomes, outro suposto intermediário das vacinas, afirma que Dominguetti lhe ofereceu uma doação não especificada para que ajudasse na venda de vacinas ao ministério. A fervura não tem data para esfriar. Aziz anunciou ontem que a CPI vai continuar trabalhando durante o recesso parlamentar, de 18 de julho a 1º de agosto, contrariando a vontade do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).