Um relatório do Fórum Econômico Mundial lançado nesta terça-feira (27/2) mostra como um novo modelo de crescimento no Cerrado poderia gerar US$ 72 bilhões por ano para a economia do Brasil até 2030. Equilibrando as medidas de proteção ambiental e, ao mesmo tempo, impulsionando a produção sustentável de alimentos e explorando as indústrias verdes.
O estudo “Cerrado: Production and Protection” foi realizado pela Tropical Forest Alliance, uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial. Baseado nas análises dos dados do Plano de Transformação Ecológica do Brasil, elaborado pela empresa Systemiq, parceira na elaboração do relatório.
O Cerrado é responsável por 60% da produção agrícola do Brasil e 22% das exportações globais de soja. Mas recebe muito menos atenção e proteção legal do que a floresta amazônica. Isto resultou em um aumento de 43% no desmatamento no ano passado no bioma, em comparação com uma queda de 50% na Amazônia, de acordo com dados do governo.
Desmatamento
O desmatamento para a produção agrícola já eliminou metade da vegetação nativa do Cerrado. Se as tendências atuais continuarem, os ecossistemas dos quais dependem os negócios de soja, gado, cana-de-açúcar e milho no Brasil sofrerão, causando escassez de alimentos em todo o mundo e prejuízos econômicos.
O estudo aponta que o país está bem posicionado para se tornar um líder climático, adotando uma nova abordagem equilibrada que apoie o setor agrícola, fundamental para o país e, ao mesmo tempo, proteja o Cerrado.
“O Cerrado é a maior e mais biodiversa savana do mundo e, por isso, um dos ecossistemas mais importantes do planeta. No entanto, recebe pouca atenção e menos proteção legal do que precisa. Isso resultou em significativa degradação e uso não sustentável da terra, o que representa uma grande ameaça à segurança alimentar de bilhões de pessoas em todo o mundo”, diz Jack Hurd, Diretor-Executivo da Tropical Forest Alliance.
Bioenergia
Além de ser uma potência na produção de alimentos, o Cerrado também tem um enorme potencial para a bioenergia – energia derivada de plantas e outros recursos naturais – e já abriga um terço das instalações de biogás do Brasil.
Com a bioenergia destinada a desempenhar um papel fundamental no futuro sistema energético global, o relatório descreve como essa indústria pode ser ampliada de forma sustentável no Cerrado. O que poderia abrir oportunidades para o Brasil em mercados em crescimento, como o de combustível de aviação sustentável e hidrogênio verde.
No entanto, há o risco de que isso possa abrir a porta para mais desmatamento e conversão e, portanto, os investimentos devem ser acompanhados de medidas voltadas para a proteção do Cerrado. Segundo o relatório, o novo modelo exigirá maior colaboração entre os setores público e privado e ações de todo o setor de alimentos e de outros setores, incluindo formuladores de políticas, empresas, instituições financeiras e empresas de tecnologia.
“O Cerrado deve estar no centro da transformação global dos sistemas alimentares e da produção de energia, bem como das estratégias e tecnologias de conservação da natureza. Essa não será uma tarefa simples, mas ao aumentar a conscientização sobre a importância do bioma e a conexão entre produção e proteção, este documento nos colocará no caminho para um Cerrado mais sustentável”, afirma Patricia Ellen da Silva, sócia e chefe do escritório da Systemiq no Brasil.
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