Embora o Brasil seja um dos maiores mercados mundiais de automóveis, nenhum brasileiro conseguiu desenvolver e consolidar uma marca montadora nacional. Tivemos algumas tentativas. A mais famosa (e longeva) foi a fábrica criada pelo engenheiro Amaral Gurgel, na década de 60. Durou quase três décadas.
Inclusive, em 1974, a montadora chegou a anunciar o desenvolvimento do primeiro carro 100% elétrico nacional. A Gurgel Motors produziu 40 mil veículos entre 1969 e 1996, mas sucumbiu com a abertura do mercado brasileiro para os carros importados.
Foi praticamente o mesmo fim que tiveram outras montadoras nacionais de veículos. Como Puma, Aurora Projetos Automobilísticos, Companhia Industrial Santa Matilde, Farus, entre outras iniciativas.
O mais recente exemplo de montadora nacional foi a Troller, criada em 1995 no Ceará, que teve sucesso no segmento off road. Tanto, que a Ford comprou a empresa brasileira em 2007. Mas, novamente, não durou muito. Em 2021 foram fabricados os últimos dos 26 mil jipinhos de um projeto totalmente brasileiro.
O grupo Caoa tem ambição de desenvolver uma marca nacional, com produção em Anápolis (GO). Para isso, prevê destinar parte dos investimentos de R$ 3 bilhões anunciados para a sua fábrica goiana, onde são montados atualmente os modelos da Chery, ao projeto. Mas isto ainda é mantido sob total sigilo.
Lecar
Entretanto, outro empresário brasileiro estaria com a sua pequena montadora de veículos em fase mais avançada. Trata-se da Lecar, criada em 2022 por Flávio Figueiredo Assis, em São Paulo (SP). A meta é ambiciosa: se tornar a Tesla (do mega bilionário Elon Musk) brasileira, com a produção de veículos 100% elétricos.
A Lecar reúne 30 profissionais do setor automobilístico brasileiro. Alguns vindos das extintas Gurgel e Troller, outros das montadoras Ford, Toyota, Nissan e Marcopolo. Com capital 100% próprio, a empresa deve lançar em dezembro deste ano o seu primeiro modelo, o sedã cupê Lecar 459, com autonomia de 400 quilômetros por carga. A produção inicial é estimada em 3.600 automóveis ano. A Tesla produziu 1,8 milhão de veículos em 2023.
No mês passado, a Lecar recebeu a placa verde, entregue apenas a fabricantes de veículos para que utilizem em protótipos em teste. “Nosso projeto é de um carro feito para os desafios das estradas do Brasil, com tecnologia de ponta, resistência, prazer na direção e alinhado à necessidade de redução de emissões de CO2, que foi o grande motivador para embarcarmos nesse projeto”, enfatizou Flávio Figueiredo.
Disponível para encomendas no site oficial da marca, o Lecar Model 459 apresenta-se como uma alternativa no mercado de carros elétricos, com um preço inicial de R$ 280 mil (valor semelhante a de BYD Seal).
Sonho
A montadora afirma que 35% dos componentes do carro serão importados (usará motores elétricos e bateria importada da China) e 65% de produção nacional, sendo 60% de Caxias do Sul (RS). Os outros 5% virão de outras cidades, entre elas, Rio Claro, Itupeva e Joinville, em Santa Catarina.
Promete ainda design interior e exterior diferenciados (embora muito semelhantes aos carros da Tesla). Além de boa autonomia (até 400 km) e praticidade de recarga, podendo inclusive ser realizada em uma tomada doméstica comum de 220V.
O Lecar Model 459 também promete ser rápido: fazer de 0 a 100 km/h em apenas 6,9 segundos e atingir a velocidade máxima (limitada eletronicamente) de 250 km/h.
Contudo, não há muitas informações técnicas disponíveis sobre o futuro carro. Apenas algumas projeções de como deve ficar e poucas imagens da linha de montagem (confira aqui), que está mais para fabricação artesanal.
O empresário brasileiro aposta no aumento de impostos para carros elétricos importados para tornar os futuros veículos da Lecar mais competitivos no mercado nacional. A Lecar ainda é um sonho, sem dúvida. Mas a Tesla de Elon Musk também foi um dia.