Duas explosões, com intervalo de cerca de 20 segundos, e uma pessoa morta. Tudo isso ocorreu por volta das 19h30 desta quarta-feira (13/11) na região da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Primeiro, um carro com placa de Santa Catarina explodiu no estacionamento entre o Supremo Tribunal Federal e o Anexo 4 da Câmara dos Deputados.
No porta-malas, havia fogos de artifício e tijolos. Em seguida, o dono do automóvel morreu em outra explosão em frente ao STF.
Segundo as polícias de Santa Catarina e do Distrito Federal, o homem morto é Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, que se candidatou a vereador em 2020 em Rio do Sul (SC) pelo PL – com 98 votos, não foi eleito.
Antes da explosão, ele tentou entrar no prédio. Em seguida, jogou um explosivo sob a marquise do edifício, mostrou que tinha artefatos presos ao corpo a um vigilante, deitou-se no chão e, segundo uma testemunha, detonou um segundo explosivo que levava em uma mochila. As duas áreas foram isoladas e o esquadrão antibombas fez uma varredura.
A PF abriu inquérito para apurar as duas explosões e o caso deve ser encaminhado a Alexandre de Moraes, relator de temas semelhantes, como os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
O presidente Lula não estava mais no Palácio do Planalto no momento dos incidentes e recebia os ministros do STF Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Gilmar Mendes, além do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues.
Devido às explosões, as Forças Armadas foram acionadas para reforçar a segurança. Já as atividades na Câmara e no Senado, que estavam em sessão no plenário, foram suspensas até o meio-dia de hoje. A sessão do STF já tinha terminado no momento dos incidentes, e ministros e servidores foram retirados em segurança.
Premeditado
Horas antes, Francisco Wanderley Luiz postou nas redes sociais ataques ao STF, ao presidente Lula e aos chefes das duas Casas do Congresso e circulou pelo Congresso. Ele chegou a visitar o plenário da Corte no dia 24 de agosto e publicou uma foto no local.
Na publicação, ele falou em bombas na casa de lideranças políticas e do jornalista William Bonner: “Cuidado ao abrir gavetas, armário, estantes, depósito de materiais etc. Início 17h48 horas do dia 13/11/2024… O jogo acaba dia 16/11/2024. Boa sorte!!!”, escreveu, dizendo que a Polícia Federal teria 72 horas para desarmar os artefatos.
Ele estava havia quatro meses em Brasília, e a família não sabia sobre seu paradeiro. No Facebook, reproduzia teorias conspiratórias anticomunistas. Apresentou-se nas urnas com o codinome “Tiü França”.
Antecedentes
Wanderley Luiz tinha passagem pela polícia e foi preso em flagrante em dezembro de 2012 por contravenção. Pagou fiança, mas o Ministério Público ofereceu denúncia contra ele um mês depois.
Ficou em liberdade até ser decretada sua prisão-albergue, modalidade em que o preso pode trabalhar durante o dia, mas deve retornar ao centro penal à noite. A condenação foi revogada em agosto de 2014, quando o processo foi transitado em julgado e a pena, extinta.
Efeito pós-ataque
As explosões devem exigir medidas adicionais de segurança durante a Cúpula de Líderes do G-20, que acontece na segunda e terça-feira no Rio de Janeiro. Tratado como um ataque com motivação política, o episódio preocupou integrantes do Itamaraty diretamente envolvidos no evento.
Cinquenta e cinco delegações estrangeiras chegarão ao país, a maior parte representada por chefes de Estado e de governo das 20 maiores economias do mundo.
Calculando danos
Parlamentares bolsonaristas já calculam o efeito colateral do episódio sobre o projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Para integrantes do PL, as explosões enfraquecem a possibilidade de aprovação da anistia.
A leitura, é que o ato contra o STF em si já prejudica o projeto. Outro agravante é que o homem que causou as explosões era filiado ao partido.