O ex-presidente Lula afirmou nesta terça-feira (27), em entrevista à Rádio Difusora de Goiânia, que pretende formar uma ampla aliança para enfrentar o governador Ronaldo Caiado (DEM) em Goiás e que para isto o PT pode abrir mão de lançar candidato próprio ao governo estadual no ano que vem. Lula, no entanto, não citou nenhum nome em torno do qual essa aliança de oposição poderia ser construída. A questão é que, hoje, ele não tem um.
“Obviamente vamos tentar construir um palanque para que possa ter o maior apoio político possível a minha candidatura. O candidato pode não ser do PT (em Goiás), pode ser de outro partido político”, afirmou o ex-presidente. Fragilizada em Goiás, a esquerda não vê despontar um pré-candidato minimamente competitivo dentro dos seus quadros.
O deputado federal Elias Vaz (PSB) deu na semana passada a senha sobre qual é o nome mais desejado pelo grupo: o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB). Elias gostaria de ver Mendanha filiado no seu partido para representar a base lulista em Goiás. O prefeito de Aparecida encontra dificuldade para viabilizar uma candidatura a governador dentro do MDB e cogita trocar de sigla, mas tem dialogado com lideranças da base do presidente Jair Bolsonaro que também estão insatisfeitas com Caiado. Se for para esse rumo, inviabiliza a parceria com o PT. Se não, tem todas as condições de construir uma candidatura com o partido, que inclusive integra a administração municipal em Aparecida.
Partidos mais de centro como Progressistas, PSD e PSDB não têm hoje interesse de compor com o PT localmente. Os progressistas estão em lua de mel com Bolsonaro agora que o presidente nacional da sigla, Ciro Nogueira, vai assumir o comando da Casa Civil. Buscam aqui se acomodarem na base de Caiado e, quem sabe, cavar uma vaga de senador para Alexandre Baldy.
O PSD briga por esta mesma vaga ao Senado na chapa de Caiado, indicando o nome do ex-presidente do Banco Central dos governos Lula, Henrique Meirelles. Apesar da afinidade dos dois e até de ter se cogitado recentemente Meirelles como candidato a vice-presidente ao lado de Lula, localmente o ex-ministro já disse que só disputa se for na base de Caiado, posição que conta com o apoio do senador Vanderlan Cardoso (PSD), este último um bolsonarista ferrenho no Senado (embora tenha um histórico de lulista também). Outras lideranças da sigla, o deputado federal Francisco Jr. (este também alinhadíssimo com as pautas conservadoras de Bolsonaro) e o presidente estadual, Vilmar Rocha, também querem distância do PT.
O PSDB polarizou por mais de duas décadas com o PT nacionalmente e os embates pesados do ex-governador Marconi Perillo com Lula ainda permanecem muito vívidos, ainda que a relação política dos tucanos de Goiás com o PT local sempre tenha sido razoável. Mas pesa muito o fato de que o ex-presidente e o ex-governador basicamente se detestam. Recentemente, o presidente estadual do PSDB, José Eliton, foi desautorizado publicamente só de cogitar um eventual apoio ao petista, na linha de votar no “menos pior”, caso a disputa nacional se resuma a Lula e Bolsonaro. Além do mais, é muito provável que os tucanos tenham candidato a presidente.
O MDB, antigo parceiro do PT em outras empreitadas nacionais e locais, seria a aliança mas natural e desejada da esquerda goiana, seja com Daniel Vilela ou Gustavo Mendanha disputando o governo. Além de dois potenciais nomes, o partido tem uma capilaridade nos municípios que a esquerda nunca conseguiu ter. Mas o MDB hoje mostra forte inclinação interna para uma composição com Caiado, o que pode até gerar a saída de Mendanha, como já foi mencionado anteriormente.
Isolado com os antigos aliados da esquerda, o PT goiano consegue assegurar um eleitorado fiel em torno de 10%. Pelo menos esse é o saldo do partido nas últimas eleições estaduais. Em 2014, Antônio Gomide teve 10% dos votos e em 2018, Kátia Maria ficou com 9,16%. Os demais votos teriam que vir da cota pessoal do próprio Lula. O pré-candidato a presidente vai ter que se desdobrar se quiser mesmo contar com um palanque robusto em Goiás.
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