O comando do Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) vai sair das mãos do bolsonarista radical Ailton Benedito para dar lugar à moderada procuradora Léa Batista de Oliveira Moreira Lima. Ela foi eleita procuradora-chefe pela comissão eleitoral com mandato até 2023. Alexandre Moreira Tavares dos Santos foi eleito procurador-chefe substituto.
A mudança marca uma inflexão ideológica no comando do órgão. Benedito se coloca na direita conservadora, é alinhado com os ideais do presidente Jair Bolsonaro e nunca se furtou a dar opiniões polêmicas (para não dizer outra coisa) nas redes sociais e em seus despachos. Já disse que o nazismo era um movimento político de esquerda e chegou a pedir explicações formalmente ao Itamaraty sobre um suposto envio de brasileiros menores de idade para terem treinamento militar e ideológico na Venezuela.
Este último despacho foi em 2014, quando o Brasil ainda era governado pelo PT, o presidente Jair Bolsonaro não passava de um deputado obscuro e isolado dentro da Câmara e o conceito moderno de fake news ainda era pouco discutido. Não dá pra dizer então que Benedito aderiu aos ideais e práticas que hoje classificamos como bolsonarismo. Ele sempre esteve lá.
A procuradora-geral eleita pela comissão eleitoral do MPF-GO segue uma linha oposta. Léa Moreira é signatária de uma nota divulgada em 2020, por procuradores da República, em que defendem a independência do MPF e critica o que classifica de subserviência do procurador-geral da República Augusto Aras (a quem seu antecessor era ligado) ao Palácio do Planalto. Léa também é signatária de um despacho de março de 2019 no qual quatro procuradores recomendam que as Forças Armadas lotadas em Goiás não promovam ou participem de qualquer ato em comemoração ou homenagem ao golpe de 1964, que deu início à ditadura militar no Brasil. A Procuradoria-Geral da República já foi comunicada pela comissão eleitoral sobre o resultado da votação no MPF-GO e agora cabe a Augusto Aras a nomeação para os cargos da estrutura da instituição.