Uma situação inusitada está acontecendo na pré-campanha ao governo de Goiás este ano: os pré-candidatos no Estado estão fugindo de discutir aliança com os nomes mais bem colocados na disputa presidencial. Fruto da radicalização do debate político e da polarização cada dia maior entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro, apontada por todas as pesquisas eleitorais, os principais pré-candidatos a governador e seus aliados evitam se posicionar sobre o cenário nacional e torcem por uma terceira via na qual possam se escorar sem atrair a fúria de uma parcela do eleitorado.
O governador Ronaldo Caiado defendeu na quarta-feira (22), na reunião do DEM com o PSL, em Brasília, que o novo partido fruto da fusão das duas siglas encampe uma candidatura de terceira via. A chance do governador apoiar um nome do PT é zero e ele está cada dia mais distante de Bolsonaro. Gustavo Mendanha já disse em entrevistas que tem boas relações com aliados tanto de Lula quanto de Bolsonaro em Goiás (ambos grupos políticos integram sua base em Aparecida), mas também defendeu uma alternativa a essa polarização nacional. Os dois pré-candidatos no mínimo ganham tempo ao dizerem que estão aguardando um presidenciável alternativo que seja viável eleitoralmente, o que ainda não surgiu no horizonte.
A questão é que tanto Lula quanto Bolsonaro podem atrair muitos desgastes para uma chapa estadual. Lula está em alta nas pesquisas, mas ainda canaliza contra si uma repulsa muito grande de uma parcela da população. Este sentimento é especialmente forte em alguns segmentos como o agronegócio, evangélicos e uma fatia expressiva da classe média urbana, que são decisivos em qualquer eleição em Goiás. O eleitorado aqui é majoritariamente conservador e esse público segue engajado nas pautas bolsonaristas e no combate à “esquerda” (que, para esse público, é basicamente tudo que não está totalmente alinhado às ideias do presidente).
Então seria mais negócio para Caiado e Mendanha, do ponto de vista eleitoral, se aproximarem de Bolsonaro? Hoje não. O presidente também tem perdido apoio popular em Goiás, ainda que em proporção menor que no restante do País. Com um governo errático e acossado por denúncias, Bolsonaro pode se tornar um peso grande a ponto de afundar um palanque estadual. E o presidente, com seu estilo radical, também tem atraído contra si a indignação de uma parcela cada dia maior do eleitorado. Sua rejeição já alcançou a faixa dos 60% em algumas pesquisas.
Historicamente, as eleições presidenciais influenciam pouco as disputas em Goiás, que têm suas particularidades e até anomalias na formação dos palanques. Mas a disputa de 2018 destoou. A onda conservadora que varreu o País também chegou com força aqui e contribuiu para a vitória de Caiado no 1º turno e elegeu vários parlamentares que conseguiram surfar nela. Não se sabe se haverá alguma onda ano que vem, seja de direita, esquerda ou de centro, por isto a prudência excessiva dos pré-candidatos estaduais ao discutirem a disputa nacional.