Se existisse formalmente uma bancada dos negacionistas na Assembleia Legislativa, Cairo Salim seria uma grande aposta para ocupar a função de líder. Sob a justificativa de discutir proposta de um passaporte da vacina em Goiás, o deputado do PROS promoveu nesta segunda-feira (26) uma audiência pública, com profissionais da área da saúde e, principalmente, ativistas de direita, na qual sobraram declarações controversas sobre a pertinência da vacinação, o uso de máscaras e o combate à pandemia.
O debate começou com a discussão sobre o direito fundamental de ir e vir, que, segundo os participantes, seria violado ao impor restrições a quem não é vacinado. “Estamos em teste com as vacinas. Estão querendo proibir a circulação de quem não tem comprovação de vacina. Não podemos deixar que esse projeto de lei seja aprovado. Não ao passaporte sanitário no Brasil e no estado. Devemos impedir essa ditadura”, afirmou Cairo Salim, que presidiu a sessão.
Mas logo os convidados, parte deles participando remotamente, partiram para o ataque contra a eficácia das vacinas. “Toda vez que você quer discriminar, arruma um pretexto. É um grande erro igualar a vacina da covid-19 com as vacinas do calendário brasileiro. Falta padronização. As vacinas para covid não dão proteção para não pegar covid-19 e quem toma pode transmitir a doença. Estão criando uma falsa sensação de segurança”, afirmou o médico Francisco Eduardo, que também chamou a campanha de vacinação de “verdadeiro experimento humano”.
O professor Lucas Henrique afirmou que o passaporte sanitário seria um instrumento de controle alinhado ao regime político chinês para controlar todos os passos dos cidadãos. Professor Cristóvão do Espírito Santo Filho, advogado da Associação Brasileira dos Advogados Cristãos (Abacre), leu uma nota da instituição em repúdio ao passaporte. “Já temos relatos nas redes sociais, de efeitos terríveis, como amputações”, alertou, acrescentando que a vacina é uma “proposta socialista”. No entanto, não existem registros de amputações pelas autoridades de saúde decorrentes das vacinas.
A biomédica Gi Lara disse que a vacinação pode representar “um genocídio em massa”. O presidente da Frente Conservadora de Goiás, Jeniffer Crecci, acrescentou que antes da audiência, ele era contrário somente ao passaporte da vacinação, mas que após ouvir as falas dos demais convidados, iria também militar contra a vacina.
A audiência promovida por Cairo Salim foi, basicamente, um festival obscurantista dentro da Assembleia. Os efeitos positivos da vacinação podem ser facilmente constatados pela queda brusca no número de mortos e contaminados. Só de agosto para setembro deste ano, as mortes caíram 32% em todo País, enquanto os casos positivos recuaram 24%. Em estados do Norte e Nordeste, a queda no número de mortes foi de 50% num único mês. O Brasil registrou na segunda-feira uma média móvel de 202 mortos por Covid-19. Antes da vacinação em massa, tivemos pico na casa dos 3 mil óbitos/dia na média móvel.