Uma candidatura a presidente do ex-ministro Sergio Moro (Podemos) não tem mais empolgado tanto a cúpula nacional do União Brasil, partido ainda a ser oficialmente criado a partir da fusão entre DEM e PSL. Até mesmo a migração do ex-juiz para o novo partido, como se especulou muito na semana passada, parece já ter sido abortada (ou pelo menos adiada). Motivo principal: há muita dúvida se Moro terá mesmo potencial para crescer nas pesquisas eleitorais e, o principal, ser um candidato viável para quebrar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT).
Há outros motivos também, como a investigação aberta no TCU para apurar se havia conflito de interesse no trabalho que Moro prestou para a consultoria americana Alvarez & Marsal. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas estuda pedir um relatório de inteligência ao Coaf para saber quanto o ex-juiz da Lava Jato recebeu durante o ano que trabalhou para a consultoria americana. Além disso, há pressão no Congresso para investigar, via CPI, supostas relações de Moro com empresas que foram investigadas pela Lava Jato.
Outra dificuldade é que a prioridade para o União Brasil será eleger e reeleger o maior número de governadores, senadores e deputados. As principais apostas do novo partido são reeleger os governadores Ronaldo Caiado (GO), Mauro Mendes (MT) e o coronel Marcos Rocha (RO); e eleger Gean Loureiro para o governo de Santa Catarina, Antonio Carlos Magalhães Neto na Bahia, Miguel Bezerra em Pernambuco, Felipe Rigoni no Espírito Santo e o deputado Capitão Wagner no Ceará.
Uma filiação de Mouro no União Brasil ou até mesmo continuando no Podemos, mas apoiado pelo novo partido para uma candidatura a presidente da República, contraria os interesses de alguns dessas candidaturas estaduais. Segundo o jornal O Globo, ACM Neto resiste em ter o ex-juiz no palanque baiano porque no seu Estado o eleitorado petista é muito forte. Em Goiás, Caiado ainda tem muitos eleitores em comum com o presidente Bolsonaro. E os dois temem a alta rejeição de Moro entre os dois grupos.
A cúpula nacional do União Brasil tem dito que Moro precisa até em abril passar dos 15% nas pesquisas eleitorais. Atualmente, está na casa dos 10%, segundo as últimas pesquisas divulgadas, ficando em terceiro lugar, atrás de Bolsonaro e Lula. E mesmo que Moro cresça nas pesquisas, ainda assim um apoio nos Estados será avaliado caso a caso, sem imposição nacional do partido.