O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi claro ontem na Avenida Paulista: “Quero dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes (ministro do STF), esse presidente não mais cumprirá.” O Centrão, repentinamente, ficou sem espaço de manobra retórica para argumentar que houve mal entendido. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), estava tranquilo até ali. De repente, fechou-se em copas e correu para Brasília. Além do desafio explícito ao Judiciário, Bolsonaro ainda falou em mandar que o Ministério da Justiça baixe uma portaria orientando a Polícia Federal a não cumprir “ordens ilegais” da Justiça.
O fato é que os apoiadores do presidente Bolsonaro conseguiram demonstrar força. Somente na Avenida Paulista, segundo a PM de São Paulo, havia 125 mil pessoas. É um número expressivo, embora seja menor que os 2 milhões que propagados ontem nas redes sociais. Em Goiânia, houve uma grande carreata de apoio ao presidente Bolsonaro pelas principais avenidas da capital. Alguns partidos e entidades da esquerda também realizaram ontem atos contra Bolsonaro, mas com pequena mobilização e público. Na Avenida Paulista, por exemplo, não passaram de 15 mil pessoas. Em Goiânia, a passeata sequer enchia uma rua.
Engajamento político
Mas, se o bolsonarismo comemorou ontem a demonstração de força e unidade dos apoiadores do presidente da República, o meio político não se impressionou tanto. Cada vez mais distante de Jair Bolsonaro, o governador Ronaldo Caiado (DEM) optou por passar longe de qualquer referência aos acontecimentos de ontem. Postou apenas uma mensagem com uma foto sua que traz a bandeira do Brasil em segundo plano e com a mensagem de que o 7 de setembro é um marco de “emancipação política e o início da luta por um processo democrático onde as pessoas tivessem voz”.
O prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB), também não fez referência direta às manifestações e postou foto com a bandeira. “Estarei sempre pronto para lutar por um país mais justo e fraterno, a partir das nossas cidades”, escreveu. Já o prefeito de Anápolis, Roberto Naves (PP), disse nas redes sociais que o 7 de setembro vai ficar na memória do País “de luta pela liberdade”. Os ex-governadores Marconi Perillo e José Eliton, do PSDB, nada declararam sobre os atos pró-Bolsonaro.
Dos 17 deputados federais e três senadores de Goiás, apenas 5 participaram das manifestações em favor do presidente Jair Bolsonaro. Estiveram presentes, em locais diferentes, os deputados Magda Moffato (PL), Major Victor Hugo (PSL), José Mário Schreiner (DEM) e João Campos (Republicanos) e o senador Luiz Carlos do Carmo (MDB). Os dois últimos estiveram em atos em Goiás, enquanto os primeiros foram até Brasília. O deputado Rubens Otoni (PT) foi o único a participar de atos contra o presidente, em Goiânia.
Nacionalmente, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, convocou para hoje uma reunião da executiva nacional do partido para fechar uma posição em relação ao impeachment e a outras medidas legais contra o presidente. Isto caiu como uma bomba na bancada do partido na Câmara, que abriga deputados bolsonaristas como Aécio Neves (MG), Geovania de Sá (SC) e Paulo Abi-Ackel (MG). O DEM e o PSL, que devem se fundir, soltaram uma nota conjunta de repúdio. Vale lembrar que o DEM tem pelo menos um ministro no governo, Onyx Lorenzoni, e o PSL ainda abriga o grosso dos deputados bolsonaristas, incluindo o filho Zero Três, Eduardo Bolsonaro (SP).