Estimulados pelos ataques diários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), parlamentares da base governista falam em “enquadrar” o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Lula tem criticado reiteradamente a política de juros mantida pela autoridade monetária e reclamado da autonomia do BC, que o impede de substituir do presidente da instituição. Cresce entre os parlamentares, que se reuniram ontem com Lula, a tendência de convocar Campos Neto para se explicar no Congresso.
Mas, tal mobilização já encontra resistência e é alvo de críticas. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que buscará uma reunião entre Lula e Roberto Campos Neto para compatibilizar a autonomia do BC com o combate à fome e à miséria. “É um avanço, uma autonomia que afasta critérios políticos de algo que tem um aspecto técnico muito forte, que é o Banco Central”, disse.
Responsável pela política monetária nos dois governo anteriores de Lula, o ex-presidente do BC Henrique Meirelles (foto) disse que o antigo chefe parece estar seguindo a política de juros de Dilma Rousseff. “Há pouca possibilidade de que dê certo”, afirmou o economista, que também foi ministro da Fazenda no governo de Michel Temer. Ele lembra que também foi alvo de cobranças por parte de Lula quando presidiu o BC.
Tucano
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que o presidente Lula usa métodos semelhantes aos do seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), na condução do governo. Sobretudo ao buscar supostos culpados por suas dificuldades. Não as soluções. A fala faz referência direta às críticas que Lula tem feito ao presidente do BC, Roberto Campos Neto. Lula tem criticado a taxa básica de juros, a Selic.
“Lula, de alguma forma, segue –claro que não dá para comparar as medidas– um caminho semelhante ao do Bolsonaro ao procurar culpados. Com um mês e pouco já arrumou culpados para a inflação, o Banco Central. E o Banco Central é culpa do Senado. Então fica procurando culpados e pouco oferece soluções“, disse.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, negou que haja um processo de fritura ou que o governo pretenda mexer na lei que deu independência ao BC. “A lei estabelece claramente que tem mandatos e que serão cumpridos”, disse.
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