Os cem primeiros dias de um governo são considerados um marco simbólico no qual o chefe do Executivo mostra “sua marca” ou ao menos suas intenções. Em artigo publicado nos principais jornais do País, o presidente Lula fez um balanço de seus cem dias, completados hoje. No texto, ele afirma que priorizou o “inadiável” e trabalhou pela “reconstrução” e “união” do Brasil.
“Não existem dois Brasis, o Brasil de quem votou em mim e o Brasil de quem votou em outro candidato. Somos uma nação”, escreveu. Lula destaca o relançamento dos programas Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Mais Médicos. Aborda a recriação de três ministérios (Igualdade Racial, Mulheres e Povos Indígenas) e menciona a articulação com prefeituras e governos estaduais, assim como a retomada da relevância do País na esfera internacional.
Ao longo desses cem dias, Lula cumpriu 13 das 36 promessas de campanha, quase todas em áreas sociais. Entre o que ainda falta fazer estão temas econômicos, como a reforma tributária, uma nova legislação trabalhista e um programa de renegociação de dívidas. André Singer, ex-porta-voz de Lula, diz que há urgência por resultados, que é preciso investir na nova classe C — com renda familiar de dois a cinco salários mínimos.
Polarização
Mas Lula 3 dá sinais de que ainda está preso na polarização e na “bolha”. O desafio é encontrar as marcas dessa gestão. A falta de uma “marca” é a principal crítica até entre aliados do presidente, para os quais o governo basicamente recicla programas antigos. Embora auxiliares próximos de Lula reforcem o discurso de que os primeiros cem dias foram “de arrumação”, integrantes da base reclamam da demora em nomeações e liberações de recursos.
Por outro lado, cientistas políticos e analistas apontam como avanço a restauração de instituições e de valores democráticos minados pelo bolsonarismo, assim como a abertura de espaços para as minorias. Ativistas, porém, cobram uma representação maior nas altas esferas de governo.
Base de apoio
O 3º governo do presidente Lula completa 100 dias hoje com dificuldades para consolidar uma base de apoio na Câmara dos Deputados. No Senado, a situação é mais favorável, com cerca de 51 senadores sintonizados com pautas do Executivo –ainda que sem alinhamento automático. Na Câmara, o Palácio do Planalto terá sua 1ª prova de fogo em plenário na votação das MPs (medidas provisórias), que deve começar a andar nesta semana. O presidente Arthur Lira (PP-AL) e os líderes do Governo no Congresso e na Câmara dizem que Lula ainda não tem um grupo de aliados suficiente para assegurar uma votação tranquila.