As chuvas de início de ano têm escancarado, mais uma vez, a omissão das autoridades públicas sobre os perigos para alagamentos e desastres em milhares de municípios brasileiros. Inclusive em Goiás. Segundo reportagem do jornal O Popular, as últimas chuvas que atingiram Goiânia revelam que a cidade tem mais pontos de alagamento do que aqueles que constam na lista oficial da Prefeitura.
No monitoramento do Paço são 94 endereços. Em levantamento a partir de reportagens já publicadas, o Popular verificou ao menos cinco pontos que não constam no mapa monitorado oficialmente. A Defesa Civil diz que já há uma atualização com outros locais e deve fazer a publicação nos próximos dias.
Uma das causas é o avanço de construções, com a redução de bolsões verdes para reduzirem os riscos de alagamentos na capital goiana. Por exemplo, a derrubada de 86 árvores em um terreno de aproximadamente 5 mil m², na Avenida 136, para construção destinada a comércio e conveniência. Especialistas, ouvidos pelo Popular, afirmam que há aumento de riscos advindo das perdas de vegetal e de permeabilidade do solo.
Tragédia anunciada
O governo federal, de São Paulo e a prefeitura de São Sebastião foram alertados sobre o risco de desastre dois dias antes de os temporais atingirem o Litoral Norte paulista, afirma Osvaldo Moraes, diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. O aviso incluía o risco na Vila Sahy, onde morreram mais de 30 pessoas. Pelo menos 48 pessoas morreram na região e mais de 50 seguem desaparecidas. Mesmo sabendo da previsão, as autoridades falharam em avisar a maioria dos moradores.
O ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, confirmou ter recebido o alerta do Cemaden e admitiu falhas na forma de comunicar os riscos. Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de SP, disse ter repassado a informação aos municípios do litoral e usado os meios de comunicação para alertar a população.
A Defesa Civil do estado enviou avisos sobre chuvas para os celulares de 34 mil pessoas cadastradas em seus sistemas, numa região que, segundo o IBGE, tem 288 mil habitantes. Segundo apurou o g1, a decisão da prefeitura de não divulgar os alertas foi pelo risco de afastar os turistas de São Sebastião, que esperava receber 500 mil pessoas no Carnaval.
Criado em 2011, depois da tragédia em Petrópolis, o Cemaden já tem mapeados, com o Instituto Geológico, 1.038 municípios com áreas de risco. As ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) querem construir um plano de ação nessas cidades. O orçamento federal previsto para este ano para gestão de riscos e desastres é o menor em 14 anos, de acordo com a Associação Contas Abertas: são R$ 1,7 bilhão para todo o ano, distribuídos em quatros ministérios.