Das 434 mortes e desaparecimentos políticos reconhecidos durante a ditadura militar no Brasil, 77,4% das vítimas tinham entre 18 e 44 anos de idade, sendo que quase metade (49,3%) estava na faixa etária de 18 a 29 anos. A idade média era de 32,8 anos. Segundo levantamento do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), para a semana que marca a data do golpe que instituiu a ditadura militar no Brasil, 31 de março.
A publicação considerou os 434 casos de pessoas vitimadas pelo Estado brasileiro no contexto de repressão política do período de 1946 a 1988. De acordo com o levantamento apurado pela Comissão Nacional da Verdade, que funcionou entre 2012 e 2014.
As mortes não ocorreram de maneira uniforme ao longo dos anos. Antes do golpe militar de 1964, ainda no período democrático, foram registrados 12 assassinatos políticos resultados da atuação do Estado brasileiro. Entre 1964 e 1968, durante a fase inicial da ditadura, 51 pessoas foram assassinadas.
O cenário se agravou drasticamente após o Ato Institucional nº 5, de 1969 a 1978, resultando na morte de 351 pessoas, tornando-se o período mais violento da ditadura. Já entre 1979 e 1985, nos anos finais da ditadura militar, quando se iniciavam as negociações para a abertura política, ainda assim foram registradas 20 mortes.
Filiação política
A grande maioria das vítimas (82,5%) era ligada a alguma organização política e 45,3% delas eram associadas formalmente a algum partido político. O período mais violento, entre 1969 e 1978, registrou o maior percentual de assassinatos e desaparecimentos de militantes partidários, atingindo 40,5% de todas as mortes levantadas pela CNV no intervalo temporal.
O aumento no período se deve, em grande parte, ao episódio da Guerrilha do Araguaia cujos membros eram integrantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Esse partido foi a organização que teve o maior número de militantes assassinados, totalizando 79 pessoas, o que representa 18,2% do total de mortes levantadas pela CNV.
A Ação Libertadora Nacional (ALN), a segunda organização com mais mortes e desaparecimentos, teve 60 militantes mortos, o que equivale a 13,8% das vítimas, seguido pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), também um dos principais alvos da repressão, com 41 pessoas assassinadas (9,4% de todas as pessoas mortas e desaparecidas).
Estudantes
Os estudantes aparecem como a categoria de ocupação mais atingida, representando 32,3% dos assassinados, demonstrando a forte repressão contra a juventude e os movimentos estudantis. Além disso, 13,1% dos mortos e desaparecidos eram operários de diversos setores. Ainda conforme o levantamento do ObservaDH, pelo menos 27 dos mortos eram militares ou ex-militares.
Das 434 vítimas, 51 eram mulheres, representando 11,8% do total. No período de 1979 a 1985, o final do regime militar, a proporção de mulheres assassinadas em relação aos homens assassinados foi significativamente maior do que nos anos anteriores, chegando a representar 25% das mortes.
Em todo o país os crimes foram registrados em 15 estados e no Distrito Federal. As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro foram os principais centros de repressão, somando 47,2% das mortes.