O estouro no teto de gastos admitido pelo ministro Paulo Guedes para pagar o Auxílio Brasil de R$ 400, nova bandeira eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cobrou seu preço na equipe econômica e, claro, no mercado financeiro. Bruno Funchal, secretário do Tesouro e Orçamento e mais três auxiliares da pasta pediram ontem demissão: Jeferson Bittencourt, secretário do Tesouro Nacional; Gildenora Dantas, secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento; e Rafael Araujo, secretário-adjunto do Tesouro Nacional.
Paulo Guedes acumula agora um total de 19 mudanças em sua equipe econômica, incluindo a pasta, estatais e o IBGE. O ministro montou um time conhecido como “Chicago oldies” –uma alusão aos Chicago boys, time de jovens liberais egressos da Universidade de Chicago que reformou a economia chilena durante a ditadura de Augusto Pinochet (1974-1990). Da equipe original de Guedes, o único secretário especial que continua é Carlos Da Costa, (Produtividade, Emprego e Competitividade). Por uma razão: Guedes não conseguiu cumprir a promessa de achar um cargo para Costa num organismo internacional nos EUA depois que Donald Trump saiu da Casa Branca (e o cenário para o Brasil piorou). O restante deixou o governo –a maioria pediu demissão.
‘Motivos pessoais’
O Ministério da Economia disse que as demissões de ontem foram por “motivos pessoais”, mas antes do anúncio, Funchal reuniu a equipe e disse que, após o estouro do teto, não tinha condições de continuar no cargo. O acordo fechado ontem no governo prevê uma mudança no teto de gastos que abre um espaço de R$ 83,6 bilhões para despesas adicionais em 2022. Horas depois, a medida foi aprovada dentro do texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios votada pela comissão especial da Câmara dos Deputados.
A debandada no Ministério da Economia era esperada porque o ministro Paulo Guedes aceitou correr esse risco. Há muito tempo, dentro do Ministério da Economia, a equipe tem trabalhado para encontrar fórmulas que pudessem conciliar a pressão política e os limites legais. Nos últimos dias, Bruno Funchal vinha dando sinais cada vez mais fortes de descontentamento e cansaço. A um interlocutor ele disse que estava trabalhando ainda para evitar o descontrole de gastos.
Com a crise na pasta, a situação do ministro foi alvo de especulações que depois foram desmentidas pelo próprio presidente Bolsonaro. “Paulo Guedes continua no governo e o governo segue com a agenda de reformas. Defendemos as reformas, que seguem no Congresso Nacional”, afirmou à CNN.