A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid preocupa cada vez mais o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sua família e aliados. Embora adote o discurso oficial de “perseguição política”, nos bastidores o clima é de muita ansiedade. A portas fechadas, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, teme o impacto das revelações na montagem das alianças para as eleições municipais de 2024.
Atendendo a uma determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, o Exército afastou Mauro Cid de suas funções profissionais, mas manteve seu salário de R$ 27 mil. Integrantes da cúpula militar avaliam que a delação pode ser positiva para as Forças Armadas, se contribuir para acelerar as investigações, virando a página das suspeitas sobre os fardados.
Mauro Cid estava preso desde 3 de maio. Em liberdade provisória, tem de usar tornozeleira eletrônica, não pode se comunicar com outros investigados e está com o porte de arma suspenso. Além disso, tem de se apresentar à Justiça em 48 horas e, depois, às segundas-feiras.
No dia seguinte à sua soltura, Jair Bolsonaro foi às redes sociais. Em vídeo, disse que as frases que mais ouve no meio do povo são: não desista, Deus te abençoe e estamos orando por você.
Avaliação de Lula
Já o presidente Lula (PT) afirmou que a delação deve demonstrar que Bolsonaro estava “envolvido até os dentes” nos planos para um golpe de estado. “Eu acho que ele tá altamente comprometido. A cada dia vai aparecendo as coisas, e a cada dia nós vamos ter certeza de que havia a perspectiva de golpe e que o ex-presidente estava envolvido nela até os dentes”, afirmou.
Procurador-geral da República, Augusto Aras se manifestou contra a delação. Afirmou ao STF que não concorda com colaborações fechadas pela Polícia Federal, mas sim pelo Ministério Público Federal. Para auxiliares do presidente Lula, Aras sinalizou que tem lado e não tem condições de agir “de maneira independente” como. E acabou com suas chances de ser reconduzido ao cargo.
A colaboração premiada faz parte da legislação penal há décadas, mas ganhou expressão no âmbito da Lava-Jato, sendo alvo de críticas. A libertação pós-delação é o ponto mais criticado.