O presidente Jair Bolsonaro (PL) teve, na eleição de 2018, uma votação expressiva em Goiás: 46% dos votos válidos no primeiro turno e 55,1%, no segundo. Em Goiânia, foi ainda maior: 74,2%. De lá para cá, tem sido um dos Estados que mais visitou. Foram mais de 20, principalmente no Entorno do Distrito Federal.
Entretanto, as primeiras pesquisas deste ano apontam uma significativa desvantagem do presidente para o seu potencial adversário nas eleições deste ano: o ex-presidente Lula (PT). No final de janeiro, a Serpes mostrou que o petista tinha 40% das intenções de votos e Bolsonaro, 27,8%. Detalhe: o petista ainda não pisou em Goiás depois que foi solto da cadeia, em novembro de 2019.
Convém lembrar que as últimas pesquisas eleitorais realizadas no Brasil têm apontado uma tendência de forte redução na vantagem de Lula sobre Bolsonaro, com o crescimento do presidente nas intenções de votos. Para saber se isto também ocorre em Goiás, é preciso aguardar a divulgação de novos levantamentos no Estado.
Mas, por que o presidente Bolsonaro estaria hoje em desvantagem para um candidato da esquerda num Estado em que a maioria do eleitorado é considerado conservador? Há várias respostas, tanto no campo político como no administrativo.
Politicamente, Bolsonaro carece de um grupo forte em Goiás. No início do seu mandato, chegou a ficar próximo de Ronaldo Caiado (União Brasil). Mas, por diferenças de opiniões (especialmente sobre a pandemia da Covid-19) e afastamento estratégico por parte do governador goiano (confira mais aqui), o presidente ficou sem um palanque forte no Estado. E pode continuar sem um, caso a decisão seja realmente de lançar o deputado federal Vitor Hugo (PSL, mas a caminho do PL) candidato ao Palácio das Esmeraldas. O parlamentar mal tem 3% das intenções de votos em Goiás (saiba mais aqui).
Existe a possibilidade do grupo de Bolsonaro, ajudado pelas cúpulas nacionais do PL e do PP, fechar aliança com o prefeito Gustavo Mendanha (sem partido), pré-candidato a governador que aparece empatado tecnicamente em segundo lugar com o tucano Marconi Perillo.
É algo que esteve mais forte no início deste ano, mas perdeu fôlego, principalmente pela hesitação de Gustavo de trazer para a sua campanha estadual a polarização entre Bolsonaro e Lula. O prefeito tem bom trânsito tanto no eleitorado conservador e da direita, como também na centro-esquerda. É algo que pode ficar mais claro no final deste mês, com a decisão de Gustavo sobre qual partido vai filiar para concorrer ao governo de Goiás.
Desafios no governo
Além da questão política, Bolsonaro tem desafios no campo administrativo. Na pesquisa Serpes, por exemplo, a gestão do presidente é aprovada por apenas 26,1% do eleitorado goiano. Os que desaprovam são 42%.
A estratégia negacionista em relação à pandemia da Covid-19 custou forte desgaste de imagem ao presidente. Apesar do seu governo ter transferido mais de R$ 1,6 bilhão para Goiás em 2020 e 2021 para ajudar o Estado e municípios goianos nas ações de combate à pandemia, Bolsonaro pouco capitalizou disto. Principalmente, porque preferiu focar mais em criticar as medidas adotadas pelo governo estadual e pelas prefeituras para evitarem maior contágio da Covid-19.
Só no ano passado, o Ministério da Saúde gastou quase R$ 22 bilhões com a aquisição de vacinas. E ainda assim o presidente preferia colocar em dúvida a eficácia da imunização da população. Mais de 650 mil pessoas morreram no Brasil por causa da doença. Em Goiás, quase 27 mil (até início de março). São milhares de famílias, em sua maioria, perplexas com o posicionamento do presidente.
Mas, com a tendência de forte queda nos contágios e mortes pela Covid-19, por conta da vacinação completa de mais de 70% da população goiana, é a área econômica que agora desponta como maior desafio de Bolsonaro. A geração de empregos até voltou a crescer no Estado, recuperando as perdas de 2020 e 2021. Entretanto, o poder de renda da população caiu. Ou seja: os novos empregos criados são com salários menores ou de qualidade inferior.
Outro problema é o crescente custo de vida. A inflação (IPCA) em Goiânia passou no ano passado dos 10% e neste ano deve ficar acima dos 5%. Mas, os goianos sentem que seus bolsos estão cada vez mais vazios na hora de abastecer o veículo, pagar a conta da energia elétrica ou quando vai fazer as mesmas compras no supermercado.
Para conter a inflação, o Banco Central subiu os juros. E muito. O que causará impacto negativo na economia brasileira neste ano. O PIB brasileiro no ano passado cresceu 4,5%, o que permitiu recuperar as perdas de 2020. Para este ano, a estimava de crescimento não chega a 1%.
Com um cenário desanimador como este, Bolsonaro passou a investir pesado em programas de transferência de renda para a população. Em 2021, foram R$ R$ 60 bilhões, que também ajudaram o aquecimento econômico. Os auxílios estão mantidos para este ano, mas com valores menores. Além disso, Bolsonaro tenta reduzir o preço dos combustíveis via isenção de impostos, inclusive estaduais (saiba mais aqui).
Até mesmo no agronegócio, que foi um forte reduto eleitoral de Bolsonaro em 2018 e passou praticamente ileso pela crise econômica de 2020, há certo desalento. Os grandes produtores, que tiveram significativos aumentos de faturamento com a valorização das commodities agrícolas, têm pouco do que reclamar do governo e a maioria continua fiel ao presidente.
Mas, nos pequenos e médios, a situação é um pouco diferente. Motivo: custo da produção cresceu muito nos últimos três anos, principalmente com a escalada do dólar. Um efeito disto é o crescimento no arrendamento de terras para grandes produtores no Estado.
Não são desafios intransponíveis para Jair Bolsonaro, mas exigem flexibilização no seu discurso ideológico. O que já teria começado, ao seu modo. Os erros na condução do governo no auge da pandemia da Covid-19 custaram muito caro à imagem do presidente e aos cofres do Tesouro Nacional. É ainda possível ao presidente montar um grupo político forte, principalmente com a ajuda do Centrão. E será preciso passar confiança à população sobre os rumos da economia.