Em todo o ano passado desapareceram 2.417 pessoas em Goiás. É uma média de 6,6 casos por dia no ano. Apesar disso, houve redução de 20% nos casos de desaparecimento de pessoas no Estado, comparando com o total de 2019, no período da pandemia da Covid-19. Segundo os dados divulgados nesta segunda-feira (22/5) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em seu estudo inédito Mapa dos Desaparecidos no Brasil.
Para compor o retrato de um fenômeno recorrente, os pesquisadores da entidade analisaram mais de 300 mil registros das polícias civis entre 2019 e 2021. Eles indicam em média 183 desaparecimentos a cada dia no Brasil. Do total de ocorrências, 200,5 mil referem-se a pessoas desaparecidas e outros 112,2 mil a pessoas localizadas no período.
Com 2,4 mil pessoas desaparecidas em 2022, Goiás é o oitavo Estado no País com maior número de casos. E do total de casos que foram informados às autoridades policiais no Estado, 69,2% foram de pessoas negras e 28,9% brancas. Mas em 71% dos casos goianos não há registro sobre a cor da pessoa.
Adolescentes
Um dado alarmante é que a maioria dos desaparecidos em Goiás tem entre 12 e 17 anos de idade (29,8%). Em seguida, os maiores casos são nas faixas etárias de 30 a 39 anos (18,2%) e de 18 a 24 anos (12,8%). Do total dos desaparecimentos no Estado, 59% são do sexo masculino e 49% do feminino.
Mais um dado preocupante do estudo: do total de 2,4 mil desaparecidos em Goiás em 2021, apenas 481 foram localizados.
“A intenção dessa primeira edição do Mapa dos Desaparecidos no Brasil é apurar o olhar para um fenômeno recorrente e que não tem recebido a devida atenção das autoridades. O Estado tem o dever de procurá-la e os familiares têm direito à verdade e, se for o caso, ao luto, inclusive nas ocorrências de desaparecimentos voluntários”, explica Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Como o desaparecimento em si não constitui crime, em geral seu registro não dá início a um inquérito para a investigação. Porém, o desaparecimento de uma pessoa pode estar associado a muitos fenômenos: o adolescente que foge de casa em função de maus tratos, a pessoa portadora de transtornos mentais que fica perdida, a exploração sexual, o trabalho escravo ou o desaparecimento forçado”, frisa.
Brasil
A pandemia produziu impactos também no número de desaparecidos. De 2019 para 2021, a taxa caiu 22,3% em praticamente todas as faixas etárias, com exceção do número de desaparecidos entre 40 e 49 anos, que cresceu 2,6%. O estudo pontua que o crescimento nessa camada da população pode estar associado à perda de emprego e renda na pandemia.
O Mapa dos Desaparecidos no Brasil também mostra uma expressiva quantidade de adolescentes de 12 a 17 anos entre as pessoas desaparecidas, que representam 29,3% do total dos casos. Apesar de os adolescentes constituírem o principal grupo de desaparecidos na maior parte do País, o estudo pontua que o trabalho de investigação nestes casos em geral não é priorizado pelas Polícias Civis, por serem compreendidos como “problema de família”.
Para se ter uma ideia da dimensão do problema, a taxa média no Brasil é de 29,5 desaparecidos por grupo de 100 mil pessoas. Enquanto a de adolescentes chega a 84,4 desaparecimentos para cada 100 mil pessoas, 2,8 vezes superior à média nacional.
No Brasil homens são a maioria dos desaparecidos também, respondendo por 62,8%, do total, contra 37,2% das mulheres. Do total de ocorrências com informação étnico-racial nos boletins, 54,3% são pretos e pardos; 45%, brancos. Outro dado mostra que 30% dos desaparecimentos ocorrem às sextas-feiras e aos sábados, corroborando a percepção de policiais entrevistados para o estudo.