Depois de 24 anos no poder, o presidente sírio Bashar al-Assad foi deposto neste domingo (8/12) por rebeldes liderados pelo grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS). Multidões agitaram a bandeira síria e derrubaram estátuas e retratos do presidente e de seu pai e antecessor, Hafez al-Assad, enquanto tiros para o alto e buzinas de carros ecoavam pela capital Damasco.
Assad deixou a cidade de avião em direção a Moscou quando a ofensiva ainda se aproximava, e, de acordo com a imprensa estatal russa, ele receberá asilo humanitário.
A família Assad comandava a Síria há mais de 50 anos e enfrentava uma insurgência iniciada na Primavera Árabe, em 2011, que levou à queda de ditadores em países como Egito, Líbia e Tunísia, embora sem a substituição por democracias.
Líder rebelde
O líder rebelde Abu Mohammed al-Julani foi recebido com festa por populares na maior mesquita de Damasco no domingo. Ele comanda o HTS, grupo classificado como organização terrorista por vários governos ocidentais e do Oriente Médio e também pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Quando foi fundado em 2011, sob o nome de Jabhat al-Nusra, o grupo era filiado direto da al-Qaeda. Abu Bakr Al-Baghdadi, do Estado Islâmico, também esteve envolvido em sua formação. Julani rompeu publicamente com a al-Qaeda e dissolveu o Jabhat al-Nusra antes de criar o HTS.
O grupo começou uma iniciativa rebelde em novembro, que resultou na captura de cidades-chaves da Síria, num dos mais violentos avanços nos 13 anos de guerra civil do país. Por seus vínculos com o terrorismo, o governo dos EUA está oferecendo uma recompensa de US$ 10 milhões pela captura de Julani.
Apreensão
O clima em Damasco, após o pronunciamento de Julani, era de júbilo, mas também de apreensão. Enquanto sírios foram às ruas para comemorar a queda de Assad, rebeldes saquearam a casa do ditador e colocaram fogo na sede do governo na capital síria.
A família Assad deixa um legado amargo depois de meio século de regime repressivo. O presidente deposto e seu pai governaram o país com mão de ferro e esmagaram os dissidentes confiando nas forças de segurança do país.
Apenas na prisão de Saydnaya, calcula-se que o regime tenha torturado e executado mais de 30 mil opositores desde 2011. Mas os soldados de Assad desapareceram antes de os rebeldes chegarem à capital.
Ataque dos EUA
No fim da tarde de domingo, os Estados Unidos bombardearam alvos do Estado Islâmico no país em meio à queda de Assad. Segundo órgãos americanos, os ataques aéreos tiveram como alvo “líderes, agentes e campos” do grupo terrorista.
Em nota, o Comando Central dos EUA afirmou que os ataques visavam garantir que o Estado Islâmico não tirasse vantagem da atual situação na Síria.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que a queda da ditadura síria pode colaborar com a chegada de um acordo na Faixa de Gaza. Segundo ele, as recentes ações militares de Israel têm influência sobre a mudança de poder no país.
“É resultado dos ataques do Iraque ao Irã e ao Hezbollah, principais apoiadores do regime Assad”, afirmou, classificando a derrubada do ditador sírio como “um dia histórico no Oriente Médio”.
O Exército de Israel está atualmente lutando em quatro frentes: em Gaza, na Cisjordânia, no Líbano e “começando hoje à noite, também na Síria”, afirmou no domingo o chefe da brigada militar de Israel nas Colinas de Golã.