Confusão generalizada. Foi como ficou marcado o depoimento do governador Ronaldo Caiado (UB) nesta quarta-feira (31/5) à CPI do MST, na Câmara dos Deputados. Principalmente pela declarações do goiano. Acusou o movimento de não ter “compromisso com a transparência” e associou o grupo ao tráfico de drogas e ao trabalho análogo à escravidão. Prato cheio para deputados da esquerda, especialmente do PT, condenarem suas declarações.
“O MST não existe, não tem entidade, não tem estatuto. Não tem pessoa física que o represente, não tem CNPJ. Onde é que está rotulado de movimento? Não tem nenhum compromisso com a transparência”, afirmou Caiado. “As pessoas que faziam tráfico de drogas se resguardavam nesses assentamentos de ocupação que eram feitas para dali levar adiante o que era o tráfico de drogas, que passou a ser uma das fonte”, disse.
Caiado afirmou ainda que o MST promove “doutrinação marxista”, e declarou que todos os assentamentos em Goiás foram “alforriados”, e que não há invasões do MST no estado atualmente. Em Goiás, somente em 2022, foram registradas 32 tentativas de invasão a propriedades, contra 16 neste ano, todas sem sucesso e encerradas de forma pacífica, conforme dados da Polícia Militar de Goiás. O requerimento de convite ao governador foi apresentado pelo deputado Gustavo Gayer (PL/GO).
Bate-boca
As declarações do governador causaram confusão e bate-boca entre parlamentares da oposição, especialmente os ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e da base governista do presidente Lula (PT). As deputadas Sâmia Bomfim (Psol-SP) e Talíria Petrone (Psol-RJ) rebateram. Afirmaram que Caiado estava criminalizando o MST sem provas.
A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), também criticou. “A reforma agrária é capitalista, ela nasce com o advento da revolução francesa. Vários países da Europa já fizeram, e não são socialistas”, disse. “Quando vocês chamam os integrantes do MST de criminosos, vocês estão atingindo 450 mil famílias que trabalham de sol a sol”, frisou.
Caiado disse que “conhece o regimento da casa” e que “o parlamento não pode ficar nesse bate-boca”. Também se desentendeu com o deputado Paulão (PT-AL), ao dizer que o governador foi “infeliz quando generalizou que o MST é uma organização criminosa”. Caiado chamou o parlamentar de “mentiroso” e ainda exigiu respeito e o mandou ficar calado. Depois, Paulão disse que o governador tinha ligações com Alexandre Negrão, fundador da Medley, além do ex-senador Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira.
Caiado exigiu respeito do petista. Disse ao deputado para ficar “calado” e “deixar de ser bobo”. “Carlinhos Cachoeira é relação sua, financiou o PT de Goiás. Nunca tive ligação com bandido. É mentira. Você é um mentiroso. Você aqui não tem moral para se dirigir a mim. Não entre no CPF da pessoa. Você não me conhece, não sou da sua laia, não participo das suas bandalheiras. Eu derrubei as facções suas, derrubei a bandidagem toda”, frisou.
Propriedade
O governador de Goiás também criticou o discurso do MST de que não há reforma agrária, a falta de estrutura aos assentados e a postura de defensor do pobre. Para o governador, em 2023 não teria sentido estar discutindo essa questão do MST e propriedade privada. “A Constituição confere o direito de propriedade como norma”, ressaltou.
Caiado disse ainda que o MST deveria ter aprendido que no Brasil existe uma democracia. “É inaceitável as pessoas quererem impor suas vontades acima do que a lei determina como parâmetro de convivência. E, insistem alguns, em querer trazer para o debate a desqualificação do produtor rural, tentando demonizá-lo. O movimento perdeu o significado”, disse.
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