A Vitamedic, empresa de medicamentos do Grupo José Alves, com fábrica em Anápolis (GO), virou alvo de pesado bombardeio hoje por parte dos senadores na CPI da Pandemia. Acusaram a indústria de faturar centenas de milhões de reais com a venda de ivermectina. Somente as vendas da Vitamedic com a ivermectina, cuja eficácia contra a Covid-19 nunca foi cientificamente comprovada, saltaram de 2 milhões de unidades de quatro comprimidos em 2019 para 62 milhões no ano passado. Somente com a ivermectina, a empresa faturou R$ 470 milhões no ano passado. Em 2019, as vendas foram de apenas R$ 15,7 milhões. De janeiro a maio deste ano, já atinge R$ 264 milhões.
A ivermectina foi apregoada em várias ocasiões pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e seus apoiadores como parte do chamado “kit covid” para o suposto “tratamento precoce” da doença. No Brasil, a Vitamedic é um dos principais produtores do medicamento, também vendido por outros laboratórios, como Abbott, Legrand e Neo Química.
Pressionado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), o diretor-executivo da Vitamedic, Jailton Batista, alegou não dispor de todos os números de vendas e faturamento da empresa antes e depois da pandemia e disse ser incapaz de avaliar o impacto das declarações do presidente Bolsonaro sobre a venda do remédio. “Antes que houvesse alguns pronunciamentos, desde a eclosão da pandemia, quando os primeiros estudos in vitro apontaram que a ivermectina tinha alguma ação, isso desencadeou o interesse pelo produto. Ele passou a ter visibilidade maior. Mas não temos como medir o que impactou a fala do presidente no nosso negócio”, disse Batista.
No depoimento, Jailton Batista reconheceu que a Unialfa, empresa do setor de educação que pertence ao grupo de José Alves, patrocinou um manifesto da Associação Médicos pela Vida, defensora do “tratamento precoce”, sobre “medicamentos contra covid-19”, publicado na imprensa em 16 de fevereiro deste ano. Defendeu a empresa, alegando que não tinha como interferir no conteúdo do informe publicitário elaborado pela associação.
Jailton Batista negou, entretanto, o pagamento de bonificações a médicos para estimular o uso da Ivermectina. Mas, confirmou o financiamento de diárias para a realização de palestras sobre a medicação destinada ao “uso preventivo” contra covid-19. Os senadores questionaram o aumento do preço da ivermectina, de cerca de 60% desde o início da pandemia. Segundo Jailton Batista, a variação ocorreu devido ao aumento no preço da matéria-prima do medicamento, à elevação de custos em razão da pandemia e à variação cambial.
Os senadores defenderam a convocação do empresário José Alves Filho para prestar mais esclarecimentos. O requerimento original previa a presença do empresário nesta quarta-feira. Mas em ofício enviado à comissão, José Alves argumentou que, como acionista da Vitamedic, poderia responder apenas sobre “investimentos fabris e novas aquisições” e sugeriu o nome de Jailton Batista. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), anunciou hoje que o empresário goiano será chamado.