A suposta espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) levou a uma sacudida na cúpula do órgão. O diretor adjunto Alessandro Moretti foi exonerado nesta terça-feira (30/1) pelo presidente Lula (PT). Ele será substituído pelo cientista político Marco Cepik, que hoje está à frente da Escola de Inteligência da Abin.
O petista já havia dito que não havia clima para Moretti continuar, pois estava sendo “provado” que ele mantinha relação com integrantes do governo passado, como o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da agência investigado pela Polícia Federal.
No inquérito sobre a chamada “Abin paralela”, a PF cita um suposto conluio entre a atual gestão da agência e a anterior para dificultar as investigações sobre o monitoramento ilegal de autoridades e adversários do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
A mudança foi decidida em reunião ontem com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais). No ano passado, a Abin deixou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), passando para o guarda-chuva da Casa Civil, com o objetivo de diminuir a bolsonarização do órgão.
Apesar de Moretti ser visto como bolsonarista, Lula o manteve por indicação do atual chefe da Abin, Luiz Fernando Corrêa, cuja demissão chegou a ser debatida, mas não será efetivada — ao menos por ora.
Além da demissão do número dois, todos os departamentos passarão por mudanças e sete diretorias serão trocadas — quatro delas devem ser assumidas por mulheres.
Investigação da PF
O general Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI no governo Bolsonaro, foi intimado pela PF a prestar esclarecimento na próxima terça-feira sobre a suposta prática de espionagem ilegal na Abin. O objetivo é investigar se Heleno tinha conhecimento das supostas ações ilegais de Ramagem.
Já a conversa usada pela PF para apontar o uso de estrutura paralela na Abin pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) tem data posterior à saída de Ramagem do órgão. Em 11 de outubro de 2022, data da mensagem com pedido de ajuda, seguida de solicitação de informações sobre inquéritos “envolvendo PR e 3 filhos”, Ramagem já tinha deixado a Abin para disputar a eleição a deputado federal.
Investigadores da PF afirmam que a peça policial não cita Ramagem como “então diretor-geral da Abin”, tratando-o apenas como “delegado”.
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