O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar hoje (27/10), por unanimidade, a taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto porcentual, de 6,25% para 7,75% ao ano. Foi o maior aumento em uma única reunião em quase 20 anos e a taxa chega agora ao maior nível desde o fim de 2017. E tem mais pela frente: o BC já avisou que na próxima reunião, em novembro, haverá novo aumento de igual tamanho.
A decisão vem ao encontro do que os agentes de mercado passaram a esperar depois das más notícias das últimas semanas, já que muitos economistas passaram a estimar que a Selic subiria entre 1,25 ponto e 1,5 ponto nesta reunião. Entre elas, a persistência da inflação atual elevada — com a recente surpresa negativa da parcial do IPCA em outubro —, a piora das projeções do IPCA para 2022, que se distanciam da meta de 3,50%, e a deterioração do risco fiscal.
A projeção do Copom para a inflação de 2022, a mais importante sobre a qual o BC pode agir neste momento, estava em 3,7% na última reunião, no cenário em que a Selic subiria para até o pico de 8,5% na virada de 2021 para 2022.
Agora, na reunião de hoje, partindo da premissa para o pico da Selic no Focus já em 9,75% (e deve subir mais), o Copom reviu para cima essa projeção.
Crítica
O economista Júlio Paschoal critica a decisão do Copom. “Aplica novamente o remédio errado para combater a inflação de custos e não de demanda como se imagina. O aumento da taxa Selic não tem nenhuma ação sobre a inflação de custos em curso no país. Pelo contrário, a manterá elevada, prejudicando diretamente o setor produtivo, no mercado doméstico. A inflação de custos só será estancada com o cumprimento das metas fiscais e do teto de gastos”, diz.
A continuar no caminho traçado pela Banco Central, o economista afirma que o dólar continuará se valorizando em relação ao real, devido a insegurança que paira no mercado, quanto ao cumprimento por parte do governo federal, de suas obrigações perante a seus credores. “A insegurança mantém o dólar flutuando de forma positiva, em relação ao real e com isso continuará elevando os preços dos insumos, demandados pelo setor fabril e de alimentos, que são indexados a moeda estrangeira”, frisa.
Como ainda haverá outra reunião desse Comitê, no final do ano, novo aumento tende a ocorrer, provavelmente levando esta taxa, para algo em torno de 9% ao ano. Algumas instituições financeiras já projetam taxa básica dos juros acima dos 10% ao ano até dezembro. “A opção pelo aumento da taxa Selic, mostra o quanto a equipe econômica está equivocada e perdida”, frisa Paschoal.