Uma criança negra, um líder indígena, uma catadora, uma cozinheira, um professor, um artesão, um operário e uma pessoa com deficiência. Nas ausências anunciadas de Jair Bolsonaro, que deixou o País, e de Hamilton Mourão, que se recusou a participar da cerimônia, coube a representantes do povo entregar a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva.
O petista tomou posse ontem (01/1) para seu terceiro mandato como presidente da República diante da multidão que ocupava a Praça dos Três Poderes.
Pelo menos um deles era uma figura internacionalmente conhecida, o cacique kayapó Raoni, de 90 anos. Além de encerrar o mistério sobre a passagem da faixa, a presença de pessoas do povo combinou com o discurso que o presidente leu no local. Ele se emocionou duas vezes: ao falar do tempo em que esteve preso e da volta da fome ao cotidiano dos mais pobres.
“Há muito tempo, não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando o lixo em busca de alimento para seus filhos, famílias inteiras dormindo ao relento – enfrentando o frio, a chuva e o medo –, crianças vendendo bala e pedindo esmola enquanto deveriam estar na escola”, disse, reafirmando o compromisso com o combate à desigualdade.
Além dos representantes do povo, Lula estava acompanhado da primeira-dama Janja da Silva, do vice Geraldo Alckmin e da mulher deste, Lu Alckmin.
Ritual da posse
O ritual da posse começou mais cedo com um tradicional, mas desaconselhado pela segurança, desfile em carro aberto. Lula e Janja foram acompanhados por Alckmin e Lu no veículo, num sinal de prestígio ao vice, que também é ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio.
O cortejo seguiu até o Congresso, onde, em sessão conjunta, Lula e Alckmin prestaram juramento e assinaram os termos de posse. Além dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PDS-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estavam presentes, entre outros, a presidente do STF, Rosa Weber, e o procurador-geral da República, Augusto Aras, o único a não ser aplaudido quando foi apresentado.
No Congresso, Lula fez um discurso ressaltando seus dois primeiros mandatos e criticando a gestão de Bolsonaro. Ele classificou como “estupidez” o teto de gastos e defendeu o papel da estatais no desenvolvimento do país.
A agenda oficial da posse terminou com uma recepção no Itamaraty para 17 chefes de Estado e cerca de 2 mil convidados. Entre eles estavam os presidentes da Argentina, Alberto Fernandéz; do Chile, Gabriel Boric; da Colômbia, Gustavo Petro; e de Portugal, Marcelo Rabelo de Souza.