No que depender do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro Milton Ribeiro (Educação) vai passar incólume pela divulgação de um áudio em que admite a prefeitos que dois pastores evangélicos controlam a liberação de verbas da pasta. Interlocutores dizem que Bolsonaro, pelo contrário, vê o ministro, que também é pastor, fortalecido pelo episódio, pois comprova seu empenho em atender à base evangélica.
Faltou, porém, combinar com essa base. A bancada evangélica no Congresso deu 24 horas para que Ribeiro explique a atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Santos não é considerado representativo das igrejas e Moura é virtualmente desconhecido.
O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) e os deputados Tabata Amaral (PSB-SP) e Felipe Rigoni (União Brasil-RJ) entraram com uma representação conjunta contra Ribeiro na Procuradoria-Geral da República (PGR), o que também foi feito pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES) e os deputados Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e Túlio Gadelha (PDT-PE).
Já a Liderança da Minoria na Câmara encaminhou notícia contra o ministro e Bolsonaro ao presidente do STF, ministro Luiz Fux. (Poder360)
Ministério nega
Diante da repercussão, o MEC divulgou na tarde de ontem nota em que o ministro negou o que disse na gravação. Segundo a nota, “a alocação de recursos federais ocorre seguindo a legislação orçamentária, bem como os critérios técnicos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE)”. Ribeiro também procurou blindar Bolsonaro, afirmando que este pediu apenas que recebesse todos os que o procurassem, incluindo os dois pastores.
Mas os prefeitos estão começando a falar. Gilberto Braga (PSDB), de Luís Domingues (MA), disse que o pastor Arilton Moura exigiu R$ 15 mil antecipados para protocolar demandas do município e 1kg de ouro quando a verba fosse liberada. Já Fabiano Moreti, prefeito de Ijaci (MG) relata que só foi recebido pelo ministro após a intervenção dos religiosos. “O pastor tem mais moral que deputado. Eu sou aliado de deputados que não conseguem uma agenda para mim com o ministro”, conta.