Chegamos a metade de 2021 e o segundo semestre promete ser sem refresco para o governo de Jair Bolsonaro. Ontem, mais uma nova e grave denúncia de corrupção: um dólar por dose de vacina comprada, teria sido a propina que o diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, teria cobrado pela compra de 200 milhões de novas doses da vacina AstraZeneca. A denúncia é do empresário Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante no Brasil da indiana Davati Medical Supply. A cobrança teria acontecido durante jantar em um restaurante em Brasília, em 25 de fevereiro.
“Não estavam só eu, estavam Dias e mais dois, um militar do Exército e um empresário lá de Brasília”, afirmou o empresário para a Folha de S.Paulo. Segundo o intermediário, Dias disse que, “para trabalhar dentro do ministério, tem que compor com o grupo”, sem explicar a quem se referia. “Se pegar a telemetria do meu celular, as câmeras do shopping, do restaurante, qualquer coisa, vai ver que eu estava lá com ele.”
No dia seguinte, os dois tiveram uma reunião oficial que incluía o coronel Elcio Franco, secretário-executivo do Ministério levado pelo general Eduardo Pazuello. Segundo Pereira, Dias saiu da sala e de fora lhe telefonou, perguntando se “teria acerto”, o que foi rejeitado. O valor da propina chegaria a cerca de R$ 1 bilhão, o negócio não foi fechado.
Ainda na noite de ontem, o governo Bolsonaro decidiu exonerar Roberto Dias, que é tido como indicação do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), embora este negue. Mas a CPI da Pandemia já pretende convocar Luiz Paulo Dominguetti Pereira para que confirme pessoalmente sua denúncia. Em rede social, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que pretende ouvir o empresário ainda nesta sexta-feira. A AstraZeneca informou que não opera com intermediários, mas a Davati, sediada nos EUA, confirmou que um de seus representantes no Brasil pediu ajuda na compra de vacinas, mas que a proposta enviada ao governo não foi respondida.