O ex-presidente Jair Bolsonaro tinha pleno conhecimento da venda ilegal nos Estados Unidos de joias e outros presentes de luxo recebidos durante seu governo, chegou a acompanhar online um dos leilões e recebeu dinheiro em espécie.
As informações constam do indiciamento dele e de outras 11 pessoas, tornado público nesta segunda-feira (8/7). De acordo com o relatório final da Polícia Federal, o ex-presidente teria formado uma associação criminosa para desviar R$ 6,8 milhões (US$ 1.227.725,12) em itens recebidos em visitas oficiais a outros países.
Segundo a investigação, com o conhecimento de Bolsonaro, seus auxiliares venderam presentes e entregaram parte do dinheiro em espécie a ele. O montante, não especificado, ingressou “no patrimônio pessoal do ex-presidente, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.
Mensagens trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid evidenciam o aval de Bolsonaro ao negócio, e o dinheiro teria sido usado para custear as despesas do ex-presidente nos EUA entre dezembro de 2022 e março de 2023.
No STF
O documento de 476 páginas foi protocolado na sexta-feira no Supremo Tribunal Federal e encaminhado pelo ministro Alexandre de Moraes à Procuradoria-Geral da República, que tem 15 dias para se manifestar.
O relatório cita o depoimento do general da reserva Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid, em que ele afirmou ter recebido US$ 68 mil pela venda de um relógio. O valor foi entregue em espécie a Bolsonaro de “forma fracionada”. Uma das parcelas foi paga em setembro de 2022 em Nova York, quando o então presidente estava na cidade para a Assembleia Geral da ONU.
Defesa
A defesa de Bolsonaro classificou o inquérito de “insólito” e disse que o ex-presidente não teve “qualquer ingerência direta ou indireta” sobre o tratamento dado aos presentes. “Insólito inquérito, que, estranhamente, volta-se só e somente ao governo Bolsonaro, ignorando situações idênticas havidas em governos anteriores”, diz o texto.
Inicialmente, a PF divulgou que o valor dos bens somava R$ 25 milhões (US$ 4.550.015,06). Pouco depois, corrigiu o dado para R$ 6,8 milhões. E Bolsonaro ironizou o erro: “Aguardemos muitas outras correções. A última será aquela dizendo que todas as joias ‘desviadas’ estão na CEF [Caixa Econômica Federal], Acervo ou PF, inclusive as armas de fogo”.
Saiba mais: PF entrega ao STF investigação contra Bolsonaro