De olho em seus interesses políticos e em cargos na Câmara dos Deputados, dois partidos antagonistas, PL e PT, decidiram apoiar o mesmo candidato à presidência da Casa: Hugo Motta (Republicanos-PB), indicado por Arthur Lira (PP-AL).
O PL tem 92 deputados, enquanto a federação liderada pelo PT tem 80. O MDB, que conta com 45, também chancelou Motta, assim como o Podemos.
A bancada do PT se reuniu ontem com o candidato e, após o aval do presidente Lula, fechou o apoio, apesar do incômodo de petistas com a decisão de Lira de criar uma comissão especial para debater o projeto de lei para anistiar golpistas do 8 de janeiro de 2023.
O PL também tem críticos a Motta, mas formou maioria e o apoio está decidido, segundo o líder do partido, Altineu Côrtes (RJ).Deputados da sigla tinham entregado uma lista de prioridades ao candidato, incluindo o PL da Anistia.
A tramitação do projeto, que seria votado na Comissão de Constituição e Justiça, agora depende da criação da comissão especial pelo presidente da Câmara. Membros do PT queriam que Motta se comprometesse a não pautar a anistia se eleito, o que não ocorrerá.
Petistas também se incomodam com sua intimidade com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e com Ciro Nogueira, presidente do PP, que também avalizou o candidato.
Interesses próprios
Ao PT, Motta ofereceu o comando da 1ª Secretaria da futura Mesa Diretora da Câmara. Hoje, o partido tem a 2ª Secretaria. Além disso, a sigla negocia a indicação a uma vaga no Tribunal de Contas da União, que poderia ser da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ou do líder na Câmara, Odair Cunha (MG).
Além da votação do projeto que pode anistiar golpistas condenados, o PL quer a vice-presidência da Mesa Diretora e mais espaço em comissões importantes.
Governabilidade
O presidente Lula tem repetido que não se envolverá na escolha em respeito à autonomia dos poderes. Mas indicou nos bastidores que pretende trabalhar para a construção de um nome de consenso, pois quer evitar disputas que possam prejudicar seu governo.
Aliados de Motta articulam um novo encontro entre ele e o presidente. Já colegas de sigla do líder do União Brasil, Elmar Nascimento, tentam convencê-lo a desistir de se candidatar e apoiar Motta.