A Declaração à Nação assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (e redigida pelo ex-presidente Michel Temer) provocou a ira dos aliados mais fiéis ao presidente. O claro recuo do presidente na guerra contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e a falta de apoio aos bloqueios promovidos por caminhoneiros despertaram desânimo e críticas dos radicais. Líder dos bloqueios nas rodovias, o caminhoneiro Zé Trovão reclamou em vídeos que se sente abandonado (ele está foragido no México e pode ser preso pela Polícia Federal a qualquer momento) e pediu para os colegas manterem as barreiras, mas tirando as faixas de apoio a Bolsonaro. Alegou que a luta é contra o STF e em defesa da família, e não a favor do presidente.
Um dos que se manifestaram imediatamente após a divulgação do comunicado foi o pastor Silas Malafaia, conhecido pela defesa que faz do governo e pelas críticas ao STF e outras instituições. “CONTINUO ALIADO, MAS NÃO ALIENADO! Bolsonaro pode colocar a nota que quiser, Alexandre de Moraes continua a ser um ditador da toga que rasgou a Constituição e prendeu gente inocente. MINHAS CONVICÇÕES SÃO INEGOCIÁVEIS!”, postou Malafaia no Twitter, usando trechos em caixa alta (que significa dizer algo de forma muito incisiva ou gritando). A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) foi à tribuna da Câmara para lamentar o comunicado. “A princípio, vou dizer que fiquei até um pouco frustrada, frustrada como no dia que Moro pediu demissão”.
O jornalista Rodrigo Constantino, um dos mais radicais defensores de Bolsonaro nas redes, comentou um post do também jornalista Milton Neves que Bolsonaro desistir de disputar a reeleição poderia ser uma boa saída para a direita radical, que ganharia fôlego para bancar algum outro nome apoiado pelo presidente, como o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura). Horas antes da carta em que praticamente pede desculpas ao STF, Bolsonaro já havia causado estranheza entre aliados ao elogiar a China, em reunião virtual com os líderes do Brics, e defender parceria do país asiático com o Brasil. Bolsonaro, que já acusou os chineses de terem produzido o vírus da Covid-19 em laboratório para usar como arma biológica, afirmou que a parceria sino-brasileira tem “se tem mostrado essencial para a gestão adequada da pandemia no Brasil, tendo em vista que parcela expressiva das vacinas oferecidas à população brasileira é produzida com insumos originários da China”.