O isolamento do presidente russo Vladimir Putin ficou claro ontem com a aprovação, na Assembleia Geral da ONU, de uma resolução “deplorando” a invasão da Ucrânia. Embora o termo tenha sido suavizado e a decisão não tenha efeito no mundo real, o placar não deixou dúvidas. Foram 144 votos a favor, incluindo EUA, os países da União Europeia e o Brasil, e apenas cinco contra – a própria Rússia, Belarus, que está servido de base para as tropas de Putin, Síria, Coreia do Norte e Eritreia. Potências como a China e Índia estão entre os 35 países que se abstiveram.
No cenário interno, o número alto de mortes entre as tropas russas – oficialmente 498 soldados – em uma semana já preocupa analistas militares e põe em risco o apoio doméstico à invasão. Para fins de comparação, ao longo de 20 anos, os EUA perderam 2.500 militares no Afeganistão.
Seja ou não um reflexo desses fatos, a Rússia mudou o tom. Em entrevista, o ministro das relações exteriores, Sergei Lavrov, reconheceu o presidente Volodymyr Zelenski como líder legítimo da Ucrânia e disse que os negociadores de Moscou estão prontos para mais uma rodada de conversas com representantes ucranianos. O novo encontro entre as partes acontece hoje em Belarus.
As declarações de Lavrov, porém, não vieram acompanhadas de moderação militar. O prefeito de Kherson admitiu no fim da tarde de ontem que as tropas russas haviam tomado o controle da cidade portuária, uma das mais importantes portas de entrada de mercadorias na Ucrânia. A invasão russa já provocou um êxodo sem precedentes de ucranianos, especialmente em direção à Polônia — o total passa de um milhão.