A Ford lançou recentemente o seu novo Mustang no Brasil. É 100% elétrico. É também um veículo utilitário esportivo (SUV). Trata-se do Mustang Mach-E, o primeiro veículo totalmente eletrificado comercializado pela montadora na América do Sul. Potente? Muito. São dois motores elétricos (um em cada eixo do carro) que geram 487 cavalos de potência. Mais que isso: o torque é de 860 Nm.
Acredite, é uma pancada. E, por ser elétrico, todo este torque está disponível praticamente de forma instantânea ao pisar no acelerador. O Mustang Mach-E faz de 0 a 100 km/h em meros 3,7 segundos. É arrancada de um superesportivo.
Apenas para efeito de comparação, o Mustang Mach-1 (o cupê que todos conhecemos e adoramos) tem um motor V8 com potência de 482 cv e torque de 556Nm. Ou seja: é menos potente que o SUV elétrico. Mas a comparação deve parar por aqui. São carros diferentes e com propostas distintas. Embora a Ford apresente o seu Mustang Mach-E como um legítimo esportivo, o veículo elétrico é um SUV, muito bonito e coalhado de tecnologia.
Para avaliar o carro, o ENTRELINHAS GOIÁS foi convidado para um test-drive. O primeiro trecho foi da sede da montadora em São Paulo (SP) até o Circuito Panamericano, a nova pista de teste da Pirelli, no interior paulista. Um percurso urbano e rodoviário de quase 180 quilômetros. Chegando lá, a experiência incluiu uma volta na pista. Apenas uma, deixando claro que a pegada aqui não é usar o Mach-E em pista de corrida.
É bonito
O SUV elétrico da Ford chama a atenção com suas linhas esportivas e agressivas, especialmente na frente (com faróis full LED) e na traseira (com lanternas de LED inspiradas no Mustang Mach-1). Até mesmo a “grade dianteira” foi desenhada para se assemelhar à uma colmeia, típica de carros esportivos. As bonitas rodas de aro 20 e pneus de perfil baixo e largo fazem parecer que se trata de um carro baixo. Os freios são da Brembo.
Por ser um SUV de tamanho médio, mas com boa distância entre os eixos, tem bom espaço interno. Em percurso urbano, transporta cinco adultos sem problema. Para viagens mais longas, quatro vão com maior conforto. Além disto, o acabamento é impecável. Os bancos tipo concha são confortáveis e o teto panorâmico é grande, mas sem a tela de proteção contra o sol (a Ford promete vender em breve como acessório).
O painel é minimalista e moderno, com o cluster de instrumentos digital em tela de 10 polegadas. Pode parecer pequeno, mas é o suficiente. E no meio do painel está uma telona multimídia de 15,5 polegadas, como manda a tendência, com o novo sistema operacional Sync 4A da Ford e o som (potente) da grife B&O.
O Mustang Mach-E está repleto de tecnologias. Tudo que a Ford dispõe atualmente colocou no seu novo carro. Para não alongar muito, destacamos o sistema de detecção, manutenção e centralização em faixa com alerta de ponto cego; controle cruzeiro adaptativo; alerta de colisão com detecção de pedestres; frenagem autônoma de emergência, assistente de manobras (estacionamento); nove airbags; etc, etc. A lista é longa.
Paz a bordo
Como o carro é elétrico e tem isolamento acústico primoroso, a paz a bordo é absoluta. O que, reconhecemos, faz muita diferença no dia-a-dia. Entretanto, se o motorista quiser, tem a disposição um som virtual que quase imita o motor V8 do Mach-1. Pode ser ajustado para ficar baixo ou mais alto, a depender do modo de condução que o motorista escolher (são 3 opções).
Embora a suspensão seja esportiva, que faz o Mustang Mach-E passar segurança e confiança aos motoristas em velocidades maiores e curvas mais fechadas, não maltrata os ocupantes. É confortável, mas firme no chão. Apesar do carro parecer baixo, passar em valetas e lombadas também não é problema.
Na rodovia podemos explorar mais a potência e, principalmente, o torque instantâneo. Ultrapassagens são feitas sem qualquer esforço. Só dar a seta e pisar no acelerador que o carro dispara. E rápido. Aliás, motoristas menos habituados com elétricos de alta performance precisam ter cautela. Até acostumarem.
Recarga e autonomia
E a autonomia? Bem, não espere por viagens muito longas. A Ford declara que o Mach-E percorre 379 quilômetros (no padrão Inmetro) com 100% de carga. Isto mais em vias urbanas. Em rodovia, onde o consumo dos elétricos é maior (diferente dos carros à combustão), espere por menos.
É aí que pinta a maior desvantagem dos carros 100% elétricos: a recarga. Na cidade até que não chega a ser um grande problema, desde que você tenha condição de recarregar a bateria em casa ou na garagem do prédio. O tempo para a bateria ir de 0% a 100% leva umas 14 horas em tomada de 220V (com instalação elétrica dedicada). Nas estações de carregamento de 11kw, isto cai para 11 horas.
Ou seja: melhor sempre deixar carregando à noite na garagem e, quando tiver a oportunidade, em uma estação de recarga.
A Ford não faz previsão (ou não divulga) sobre quantas unidades do Mustang Mach-E espera vender no Brasil. Como custa quase R$ 490 mil, é um veículo de nicho. A montadora mira donos (especialmente donas) de SUV elétrico de porte médio de marcas como BMW (modelo iX3) ou da Volvo (XC40), ao oferecer um veículo com visual mais esportivo, mais potente e com pacote tecnológico mais generoso.
A montadora americana quer dar à sua linha premium de veículos a marca Mustang. Portanto, não faz nenhum sentido comparar o Mach-E com o Mach-1. Aliás, a Ford afirma que o seu SUV elétrico seria perfeito como o segundo carro para o dia-a-dia de um dono do seu famoso cupê com motor V8, usado geralmente em fim de semana, ou de qualquer outro superesportivo.