A atual legislatura da Câmara de Goiânia ganhou um aspecto de bloco político uniforme, com os vereadores remando no mesmo sentido nas pautas de interesse interno e com uma maioria absoluta apoiando o Paço Municipal até em temas espinhosos (pelo menos até onde interessar essa parceria). Esse ambiente de pouquíssimas divergências, capitaneado pelo presidente Romário Policarpo (Patriota) e com a conivência do prefeito Rogério Cruz, se tornou propício para que os vereadores tirassem da gaveta temas polêmicos que outras legislaturas não tiveram as condições políticas (ou a vontade) de avançar.
A mais nova polêmica foi ressuscitada pelo vereador Clécio Alves (MDB), que apresentou hoje emenda à Lei Orgânica do Município para criar quatro novas vagas na Casa a partir das eleições de 2024, aumentando de 35 para 39 o número de vereadores da capital. Isto é permitido pela Constituição Federal, de acordo com a população da cidade, que hoje tem mais de 1,5 milhão de habitantes.
Na verdade, essa proposta ganhou vida algumas vezes desde 2016, quando Goiânia poderia contar com duas cadeiras extras na Câmara. Um projeto elevando para 37 vereadores chegou a ser aprovado em primeira votação, mas foi engavetado devido a reação negativa da sociedade e embates internos promovidos por alguns vereadores contrários. Hoje a realidade é de uma Câmara que não tem receio de polêmica. O ambiente interno está pacificado, o que reduz o impacto das reações contrárias, e o Executivo, comandado pelo ex-vereador Rogério Cruz, cedeu um espaço inédito aos vereadores na gestão municipal, aumentando muito o poder do Legislativo.
A atual legislatura, em menos de um ano, aprovou a reeleição de Romário Policarpo com praticamente três anos de antecedência; aumentou os servidores à disposição dos vereadores e a verba de gabinete; topou votar rapidamente, a pedido do Paço Municipal, um novo Código Tributário que vai representar aumento do IPTU para grande fatia da população; e agora tenta aprovar, em menos de um mês, uma complexa revisão do Plano Diretor que tem enfrentado resistências do Ministério Público do Estado de Goiás e de diversas entidades de classe e de moradores. Para quem tem atravessado tranquilamente tanta polêmica, criar mais quatro vagas de vereador (e facilitar a própria reeleição) é troco.
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